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Fundos menos conservadores em seus investimentos

02/08/2010, publicado por

Reproduzimos, em seguida, artigo de Eduardo Marques, responsável pela área de fundos de fundos da Claritas Investimentos: “Os fundos de pensão brasileiros respondem por uma carteira de R$ 482 bilhões, equivalente a quase 18% do PIB nacional. São participantes relevantes do mercado financeiro, e seus objetivos são garantir renda ao participante depois que suas contribuições cessarem.

 

Nesse sentido, os gestores desses ativos têm que buscar alternativas de investimento que superem suas metas atuariais ao longo do tempo, garantindo os benefícios aos participantes.

 

Desde o inicio do Plano Real, em julho de 1994, o Brasil conviveu com taxas de juros muito altas, de forma que aplicações tradicionais, vinculadas a renda fixa e ao CDI, foram o bastante para garantir a superação das metas atuariais nesses 17 anos de nova moeda.

Usando uma meta atuarial composta de IPCA + 6% e comparando-a com o CDI nesse período de 17 anos, observa-se que o CDI superou a meta em 14 deles, com diferença média de 8%, enquanto a meta atuarial foi maior em apenas três deles (2002, 2009 e 2010 – até 30/junho), com diferença média de -1%.

 

Esse cenário de conforto para superação das metas atuariais, contudo, não deve permanecer no longo prazo. Apesar da trajetória de alta de juros no curto prazo, é razoável assumir que o Brasil vai conviver no futuro com taxas de juros estruturalmente mais baixas do que convivera no passado. E cabe lembrar que, historicamente, quanto mais baixo o CDI, menor, ou até mesmo negativo, é o superávit atuarial.

Essa nova dinâmica de dificuldade na superação das metas atuariais induz mudança na postura dos gestores, pois terão que buscar uma alocação de ativos com perfil um pouco mais arrojado. Esses investidores devem buscar ativos menos tradicionais do que títulos públicos, e passar a analisar investimentos em hedge funds, ações, imóveis, private equity etc. como parte de sua alocação estratégica.

 

Esse comportamento pode ser visto em economias mais maduras, acostumadas com taxas de juros mais baixas, atmosfera mais propícia à busca por ativos que gerem retorno excedente ao mercado. O braço de gestão de recursos da universidade de Harvard, responsável por gerir US$ 35 bilhões, é um bom exemplo dessa migração. Em 1995, a universidade não tinha investimentos em hedge funds, os investimentos em commodities eram de 6% e a renda fixa respondia por 22%. Atualmente a alocação em hedge funds é de 16%, commodities atingem 14% e a renda fixa caiu para 13%.

 

Esses dados são corroborados ainda por outros gigantes do setor dos EUA e Canadá, como a Calpers, fundo de pensão dos funcionários públicos da Califórnia, maior dos EUA com US$ 211 bilhões sob gestão, que investe 67% do seu patrimônio em ações e private equities, enquanto apenas 23% em renda fixa. Outra gigante do setor, a OTTP, fundo de pensão dos professores de escolas públicas de Ontario, o maior do Canadá, com US$ 97 bilhões, direciona 32% do seu patrimônio a ações , 10% para private equities e 9% para investimentos florestais e infraestrutura, enquanto apenas 7% do seu portfólio é composto por renda fixa.

 

Ao analisar a dinâmica brasileira, investidores semelhantes têm uma alocação ainda bastante conservadora, reflexo do alto custo de oportunidade que repousa sobre o CDI. Cerca de 44% dos recursos desses investidores é vinculado à inflação, 40% à renda fixa/DI e 15% à bolsa.

 

O processo de transição dos investidores institucionais para um perfil menos conservador já está em curso, e o marco regulatório acompanhou tal evolução. A resolução 3792 do Conselho Monetário Nacional revogou a antiga 3456 e definiu novas regras para as políticas de investimentos das entidades fechadas, flexibilizando e aumentando limites, como aplicação em fundos multimercados e em renda variável.

 

A tendência de migração dos investidores institucionais para perfis mais arrojados é cada vez mais clara, e deverá ser intensificada à medida que tais investidores encontrem mais dificuldades em superar metas atuariais. E seus modelos de alocação devem se alinhar cada vez mais com as alocações dos investidores internacionais, gradativamente assumindo mais risco para garantir suas metas.

 

Esse processo de transição deverá estreitar o relacionamento desses investidores com gestores de recursos especializados em ativos alternativos, explorando oportunidades nos mercados de hedge funds, commodities e private equity e colaborando para atingir seus objetivos”.

 

Fonte: Valor